O CÉU É O MEU TETO,A TERRA É MINHA PÁTRIA,A LIBERDADE É A MINHA RELIGIÃO!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Um poema para recordar minhas origens...

     





Herança. 


Não trocaria nenhuma gota
deste sangue rubro
que me corre nas veias!
Nem por sangue aristocrata,puro,
azul ou de outro tom qualquer!
Porque o sangue que herdei
de meus antepassados
traz  nas células,
a Vida e o Passado, como  rios
de caudalosas águas borbulhantes
que por todas as paisagens
deste mundo,
foram passando !
Nos meus olhos, a luz de inúmeros 
poentes  que em ouro puro,
deslumbrantes,ficaram
para sempre 
na memória ancestral...
E as noites de escuro veludo,enfeitadas
com as preciosas jóias  das estrelas,
no fundo do meu ser
ainda estão!


E o som dos violões!
E o perfume do vento !

Ser livre e poder  cantar,dançar...
As estradas fulvas a se estender
à frente...Caminhar!
A buscar a esperança e a alegria
sentindo a  grama verde e macia, sob os pés!
A areia dourada,as montanhas azuis...A distância.
O trote dos cavalos,o balanço  e o sono.
Minha alma nostálgica
torna-se a criança
que dorme aconchegada
no âmago de um vurdón!
Não trocaria este sangue rubro
que nas minhas veias corre
por nada deste mundo!
Nem por dinheiro algum.
Pois guardo sempre
este régio tesouro 
silenciosamente protegido,
a sonhar e a refulgir
dentro de mim!


CEZARINA MACEDO.-28/Fev./2012.









Imagens do Google.

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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

MAIS UM POEMA MEU...





MINHA ALMA


Minha alma é um céu
todo cheio de estrelas
e uma Lua  redonda e branca
a se diluir em prata...
É um céu azul-lavado
de uma manhã bem clara.
Um amarelo poente
a resplender em ouro! 


Minha alma é um jardim
todo cheio de flores...
Com alamedas de árvores frondosas
onde se escondem silfos e fadas misteriosas!
Paira no ar um cheiro de jasmim.
E mil rosas de pétalas suaves
pendem dos ramos espinhosos
de roseiras silvestres.


Minha alma é criança.
Ela canta e ri,
ri e canta!
(Talvez mais do que o esperado!)
Minha alma é uma ciganinha alegre 
que a dançar se esconde                                                                                                
atrás da sombria cortina
dos meus olhos!


Cezarina Macedo- in  HARPA DOS VENTOS-Editora Novitas/Sta Cruz do Sul/RS-2009.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

PALAVRAS DE UM ANJO CIGANO...



Um dia,a um tempo atrás,uma Romi que fala e tece poesias como um anjo exilado das paisagens do Céu, respondeu a um agradecimento que lhe fiz acerca de um poema meu postado no seu blog...Nunca pude esquecer.Eis sua resposta :

"Cezarina,
Congratulações poeta! Que as estrelas bendigam seus poemas, todas as vezes que o mundo respirar."

Romi Zerafim é o pseudônimo de uma cigana(romi)  que luta pela  igualdade de direitos para todos os Rons através de suas palavras inspiradas. É uma incansável lutadora e escreve muito bem! Seus contos e poesias são de excelente qualidade e bom gosto.Conheci seu trabalho através das romies amigas do maravilhoso blog " COZINHA DOS VURDÓNS"(Outras incansáveis batalhadoras na desmitificação dos esteriótipos e preconceitos que pesam sobre o povo cigano(os Rons) e pelos seus direitos através da organização AMSK-BRASIL e seus projetos(Projeto Kalinka(ciganos na nossa escola) e Sara Kali Group(danças tradicionais romani). Fico honrada e feliz de ser amiga destas mulheres (Romies) tão maravilhosas e guerreiras na luta pelo ideal de propagar a Verdade Cigana(Tchachimôs Romani) 

Cezarina Macedo-Fev'/2012.

ROMIES DA COZINHA DOS VURDÓNS E ROMI  ZERAFIM(CONTOS DE UM ANJO):Que sua estrada seja sempre florida!
Que Sara as abençôe!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

REFLEXÕES À BEIRA DO MAR...


    
 A manhã se espreguiça lentamente,desenrolando seus novelos de nuvens, coloridas pelos primeiros raios de sol.
Meu olhar vagueia, querendo trazer consigo,como uma ressaca,toda a paisagem.
O vento que sopra do mar traz o cheiro acre da maresia,dos destroços que as correntezas  carregam e depositam na orla branca da praia.
O cheiro do mar,o vento que sopra,as areias e rochas,a espuma branca sobre a crista indomável das ondas...Tudo isto me faz pensar,refletir sobre o início de nossa história,muito atrás no tempo..
Somos ,nós brasileiros,o resultado de um amálgama de vários  grupos étnicos.
Nas nossas veias corre um sangue misturado. De índios,portugueses,africanos ,judeus convertidos e ciganos.Tudo começou no século XVI...Os indígenas  olhavam,extasiados e medrosos, os grandes barcos de imensas e tremulas velas  se aproximarem das areias quentes e amarelas das costas desta terra ainda intocada pelos pés estrangeiros do branco invasor...As caravelas que balançavam sobre as ondas às vezes,traziam em seu bojo os escravos oriundos da África e outras,  aqueles que haviam sido expulsos das terras luzitanas:os degredados.Vinham aqui purgar seus erros,sofrer suas dores. Para a Igreja as colônias de além-mar,entre elas o Brasil representavam o purgatório cristão : nelas o degredado pecador vinha sofrer para pagar seus  pecados,redimir-se. Entre esta gente se misturavam os condenados por crimes de vários gêneros,prisioneiros políticos e religiosos,e aqueles cujo único crime era pertencer a uma etnia diferente:judeus sefarditas convertidos(cristãos novos),muçulmanos e os  ciganos ibéricos (Calons),que não se adaptavam aos costumes portugueses e eram considerados hereges pela Inquisição.
Depois disso,através dos anos, essa gente que era considerada uma ameaça à Igreja e à Coroa  Portuguesa,espalhou-se por toda esta terra como areia aos quatro ventos...Trouxeram para cá sua alegria,sua música,seu trabalho honesto,sua cultura.
Dessa mistura ,desse cadinho acrescido pelas outras etnias que vieram depois,   formou-se todo um povo.Um povo bonito,religioso e místico,muito fraterno,alegre,sensual,amante da música e da dança .Herdeiro de  etnias ímpares.
Dentro de nós os traços herdados dos ancestrais.
Somos mestiços e disso devemos nos orgulhar.Há muito tempo, "raça"é uma palavra extinta,não cabe aos seres humanos. Raça só se usa para enquadrar cães , gatos , cavalos e outros animais. E os vocábulos " raça pura" ,então? São de arrepiar! E lembram xenofobia.Da última vez em que foram usados surgiu o nazismo,o fascismo e outros " ismos"... 
Portanto, sejamos orgulhosos de nossa mistura étnica!Sejamos brasileiros orgulhosos de nossas origens!



CEZARINA MACEDO.FEV.2012.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Pequena canção de amor...Meu mais recente poema...

               
PEQUENA CANÇÃO DE AMOR


E tu vieste.                                                                                                                              
Com teus olhos de promessas
como verdes mares estendidos.
Talvez,por isso,na boca, 
sempre me fica
um gosto de sal
quando me beijas...
E tu voltaste ( eu sempre soube
que um dia voltarias!)
Como voltam 
as flores nos ramos inquietos,
e as estrelas quando vem a noite.
Mas,sinto no teu amor  um gosto 
inseguro,um jeito fugitivo,
uma vaga inquietude
que me esconde o futuro,
que me abala a razão.
E o teu abraço como 
um sopro de vento repentino
me arrasta contigo
para terras distantes,distantes...
Além desse mar tão verde
e tão profundo
que fica no fundo 
bem no fundo,
destes teus olhos
claros,misteriosos,
de cigano. 



CEZARINA MACEDO-FEV/2012.





LINDOS POEMAS DE UM POETA PORTUGUÊS...

. 

Manuel Alegre Melo Duarte nasceu em Águeda ,em12 de maio de1936 e estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, onde participou activamente nas lutas académicas. Cumpriu o serviço militar na guerra colonial em Angola. Nessa altura, foi preso pela polícia política (PIDE) por se revoltar contra a guerra. Após o regresso exilou-se no norte de África, em Argel, onde desenvolveu actividades contra o regime de Salazar. Em 1974 regressou definitivamente a Portugal, demonstrando, nos vários cargos governamentais que tem desempenhado ao longo dos anos, uma  intervenção fiel aos ideais da Liberdade.
 A sua poesia foi e é um hino à Liberdade e, talvez seja por isso que é lembrada por muitos resistentes que lutaram contra a ditadura. É considerado o poeta mais cantado pelos músicos portugueses.



Letra para um hino
É possível falar sem um nó na garganta é possível amar sem que venham proibir é possível correr sem que seja fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão é possível viver sem que seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros se te apetece dizer não grita comigo: não. É possível viver de outro modo. É possível transformares em arma a tua mão. É possível o amor. É possível o pão. É possível viver de pé. Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre livre livre.
MANUEL ALEGRE.

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967



Um trecho maravilhoso de sua  prosa...

Rosas Vermelhas



Nasci em Maio, o mês das rosas, diz-se. Talvez por isso eu fiz da rosa a minha flor, um símbolo, uma espécie de bandeira para mim mesmo.  E todos os anos, quando chegava o mês de Maio, ou mais exactamente, no dia 12 de Maio, às dez e um quarto da manhã (que foi a hora em que eu nasci), a minha mãe abria a porta do meu quarto, acordava-me com um beijo e colocava numa jarra um ramo de rosas vermelhas, sem palavras. Só as suas mãos, compondo as rosas, oficiavam nesse estranho silêncio cheio de ritos e ternura.  Nesse tempo o Sol nascia exactamente no meu quarto. Eu abria a janela. Em frente era o largo, a velha árvore do largo dos ciganos. Quando chegava o mês de Maio, eu abria a janela e ficava bêbado desse cheiro a fogueiras, carroças e ciganos. E respirava o ar de todas as viagens, da minha janela, capital do mundo, debruçado sobre o largo onde começavam todos os caminhos. (...)

IMAGENS DO GOOGLE.-POEMAS E BIOGRAFIA EXTRAÍDOS                                                           DE SITES DE POESIA.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

UM POEMA MEU...










QUANDO TE AMEI


Amar-te
foi a melhor coisa acontecida.
Naquele tempo
transbordei todas as fronteiras,
ultrapassei limites,desconheci razões.
Joguei fora mapas,coordenadas,sextantes.
Esqueci todas as regras e leis...
Meus olhos tingiram o cotidiano
com as cores do arco-íris.
Minhas mãos,todas as noites
alcançavam estrelas.
Tornei-me chama,labareda,ardência.
Fiz-me perfume,vento,solidão...
E,para conquistar-te
tornei-me ausência.
As noites diluíram astros
no meu olhar surpreso.
E, as manhãs estilhaçaram o sol
para nos acordar...


CEZARINA MACEDO -IN  PALAVRAÇÃO-III COLETÂNEA SCRIPTUS./2010.


sábado, 4 de fevereiro de 2012

UM LINDO POEMA DE CORA CORALINA...


DESCONHEÇO AUTORIA.


PINTURA DE  DI CAVALCANTE



Todas as Vidas
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!
CORA CORALINA.




DESCONHEÇO OS AUTORES DAS PINTURAS ABAIXO: